quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

2016 be kind, please!

Sentados numa falésia. No horizonte, um azul infinito. O silêncio quebrado apenas pelo bater das ondas do mar. Uma maçã para dois. Ali, abraçados, sem pensar em mais nada.
Este foi o momento mais feliz de 2015 e isso já diz muito daquilo que foi o meu ano.
2015, foste um sacaninha dos piores que já conheci. Foste mau e injusto, mas sei que podias ter sido muito pior! E, por isso, não vou perder muito tempo com lamentos porque o melhor de cada ano são as lições que aprendemos!
Fui posta à prova 365 vezes. Vangloriava-me de ter a capacidade de ver o lado positivo em tudo na vida, de saber rir nas adversidades e de seguir em frente sempre de cabeça levantada. Tive que provar isto em cada dia de 2015. Às vezes, falhei! No entanto, no final, sobraram apenas sorrisos e abraços. Aqueles que estavam comigo (ou diziam estar) também foram postos à prova e, infelizmente, alguns falharam! O meu leque de amigos e de pessoas queridas ficou bem mais restrito, mas também mais consolidado. Aqueles que importam estiveram sempre lá. Obrigada por isso, a todos!
Senti muitas vezes que o ano anterior, em que aprendi a valorizar as coisas simples e a reconhecer que o meu pilar mais importante é a família, foi uma preparação para os desafios que 2015 trouxe.
Prometi tantas vezes deixar de ser tão resmungona, passar a ser mais carinhosa e mostrar o que realmente me vai na alma. Falhei quase sempre! Por isso, esta é já a primeira resolução para 2016!
Viajei e aprendi muito! Conheci locais encantadores e repletos de história, onde vivi momentos inesquecíveis! Fui muito feliz junto ao mar e o verão foi, como sempre, a melhor altura do ano!
Fui a jantares e a cafés onde me doeu a barriga de tanto rir!
Cantarolei muitos dias em que só me apetecia chorar!
Dancei menos do que nos outros anos!
Passei muitas horas em hospitais! Vi esperança e amor onde achava que só ia encontrar dor! Entrei tantas vezes revoltada no IPO e saí de lá, quase sempre, apaziguada e com a certeza de que tudo ia dar certo!
Dei muitos abracinhos ao meu amor maior e o colo da Marta foi, tantas e tantas vezes, o meu porto de abrigo!
Ficaram muitos “amo-tes” por dizer aos meus pais! Mas, no final, o que interessa é que estamos todos juntos! Foi difícil, mudou muita coisa, já não somos mais o que éramos. O cancro muda o dia a dia de uma família, mesmo que se acredite genuinamente que tudo vai correr bem!
Por isso, 2016 sê generoso connosco! Traz Saúde e Paz, o resto a gente resolve!
Bom ano a todos, principalmente aos meus!*

sábado, 26 de setembro de 2015

Que confusão!

O trabalho tem sido um refúgio. Viajar em trabalho permite arejar as ideias e abstrair do stress, da ansiedade, da revolta e da fúria que têm marcado os meus dias. Sentimentos tão contrários, tão paradoxais! Tem sido um verdadeiro turbilhão!

Dormir não tem sido fácil,  por isso uma cama de hotel e um quarto vazio de preocupações soube muito bem!

Hoje - e porque também no trabalho a palavra cancro não me larga e tenho que escrever textos e textos sobre tratamentos, taxas de sobrevida, de mortalidade, de mobilidade, etc., etc. - fui reler os relatórios médicos. Como o conhecimento aumenta a cada texto, reli com mais atenção e compreensão das palavras difíceis e verifiquei que a situação é de facto grave. Mas, depois, olho para ele e vejo-o tão bem que nem sei o que pensar!

Quem me dera ter sido abençoada com a ignorância neste caso!

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Pais <3

Foram passear e o resultado fotográfico é este! Não têm muito jeito para a fotografia, mas tentaram! :)

sábado, 1 de agosto de 2015

E o tempo passa...

Uma vezes rápido! Outras assim assim!

Já vamos a caminho da quarta sessão de quimioterapia e tudo tem corrido bem. Sem sintomas. Sem dor. Sem sofrimento. Com muita teimosia. Com muito mau feitio. Com muita esperança também!

Nas últimas duas semanas, ouvi-o dizer duas vezes "estou convencido que no fim da quimioterapia já não tenho cancro". Não sei se é só o bom humor dele a falar ou se acredita mesmo nisso. De qualquer das formas, tem conseguido levar a doença de uma forma heróica. E, apesar de tudo, não podemos nunca esquecer isso!

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Quimioterapia #Sessão2

Tirando a queda do cabelo, continua sem sintomas e a trabalhar e a fazer a sua vida normal!

O único problema é o cigarro. Vício maldito que não consegue largar! Hoje seria a data estipulada para deixar de fumar definitivamente, mas ainda estamos bem longe desse passo! Fuma de dia e fuma de noite também, porque dormir continua a ser outra dor de cabeça!

Mas, cá vamos e, para já, nada mau!

quinta-feira, 25 de junho de 2015

The Autumn is coming!

As folhas já começaram a cair! Só espero que o tronco se aguente assim despido!

Ou seja, o pai está a ficar careca! Começou ontem. Foi rápido e muito intenso. Em dois tempos, saíram manchas e manchas de cabelos e as peladas começaram a ver-se!

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Obrigada, meu rico São João...

...Por esta semana que tem sido uma diversão!

Fim-de-semana:
Muita praia e churrasco com os Xi's <3

Feriado:
Jantar com os Bons Amigos e uma noite de folia!

terça-feira, 23 de junho de 2015

Que delícia de abraço!

Enquanto tomava o pequeno-almoço, à hora do costume e no mesmo sítio de sempre, vi uma cena tão ternurenta que já fez com que este fosse um dia ganho!

Duas crianças reencontraram-se. Já não se viam desde a escola, ou seja, há uns dias! Mas, reencontraram-se como amigas de longa data que não se vêem há anos. Gritaram o nome uma da outra e correram para um abraço apertado! Depois puseram a conversa em dia e despediram-se de igual maneira. Ah, como é bom ter oito anos e esta alegria tão genuína e espontânea em viver!

Eu assisti enquanto ria e as invejava! Este encontro fez-me ter saudades. Do passado e do futuro. Saudades de quando eu era uma daquelas meninas e os reencontros eram assim efusivos, ocasionais, divertidos e inocentes. E, saudades dos reencontros que os meus filhos vão ter, um dia, com os seus amiguinhos da escola, assim num café enquanto tomam o seu pequeno-almoço!

E, claro, como sou a durona com o coração mais amanteigado que conheço, uma lágrima instalou-se logo no canto do olho!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

About last weekend!

Sábado, depois de uma noite dos diabos - que culminou com os olhos inchados de tanto chorar, a cara igual a uma bolacha e o coração em cacos - foi dia de casamento. Levantei-me, fui ao cabeleireiro, fiz do que sobrou de mim uma princesa e fui.

Até parecia uma pessoa normal, igual aos outros convidados, feliz como eles. Quando, no fundo, estava desfeita e a felicidade doía.

Mas, no fim do dia, reparei que não custou assim tanto e que já tinha passado.

Domingo, foi dia de ir ver o mar, de silêncios e de arrufos. Mas, depois, foi também dia de desculpas, de amigos e de sorrisos!

E a vida é isto, sem tirar nem por!

sábado, 13 de junho de 2015

Eu só queria ter coragem

Para ir embora!
Para empacotar as minhas coisas e desaparecer para sempre!
Não aguento mais!
Não quero mais!
Preciso tanto de ir!

terça-feira, 9 de junho de 2015

8 anos de Amor

Conhecemo-nos desde os seis anos. Somos apaixonados desde os 17. E, desde então, temos sabido crescer juntos! Temos sabido superar os maus momentos, aproveitar os bons e, por incrível que pareça, amo-o mais a cada ano que passa!

Ele é também o meu melhor amigo! Com ele vivi (e quero viver) os melhores momentos da minha vida.

Sou, de facto, uma abençoada por ter alguém assim ao meu lado!



E para festejar esta data, fomos experimentar Sushi!
Foi muito divertido porque soubemos rir da nossa inexperiência. No início da refeição estava em lágrimas de tanto rir!
No fim, acabamos por gostar (mas não delirar) com o sushi e será, com certeza, para repetir!


Venham mais 8 e 8 e 8 e 8... e sonhos e projetos concretizados!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Quimioterapia #Sessão1

[04-06-2015] Foi demorado, mas correu bem. Cumpriu tudo à risca e esteve sempre satisfeito. Levou jornais de há uma semana e pôs a leitura em dia. E, quando se fartava de olhar para as letrinhas, descansava os olhos a ver Futebol ou Voleibol na televisão.
Foram oito horas assim, acompanhadas de muita água e, obviamente, de muitas idas à casa de banho.
Veio para casa a conduzir, feliz da vida.
Trouxe a sua melhor amiga: a Bomba de Infusão que até terça-feira continuará a libertar quimioterapia.

Devia ter sentido enjoos e perda de apetite nos primeiros dias. Mas, até agora, já vamos no 4º dia do Ciclo, nada! Aliás, pelo contrário, tem comido mais e melhor! E, talvez, por isso, esquece-se que está doente. Então faz a sua vida normal, sem grandes cuidados, sem se resguardar como seria necessário! Vai trabalhar, vai ao café, anda em locais públicos concorridos, por entre a multidão, ao sol e ao calor abrasador que se tem feito sentir por estes dias.

Dentro de dois dias, entramos no período crítico em que as defesas do sistema imunitário baixam bruscamente e, a continuar assim, acabará internado num hospital. Ou então sou eu a dramatizar! Vamos indo e vendo. Um dia de cada vez!

No entanto, a cabeça não anda bem. Não descansa como devia. Anda nervoso e ansioso. A melhor imagem que me lembro para descrever o seu estado é uma barata tonta. Sempre aflito. Sempre atrapalhado. Sempre importado com coisas menores. Sempre a ignorar a doença. E isso mata a quem lida todos os dias com isto. Está a consumir, sobretudo, a minha mãe.

Coragem e força! São, agora, o pão nosso de cada dia!

terça-feira, 2 de junho de 2015


Há dias em que sinto uma saudade enorme de ti. Como se algum dia te tivesse perdido.

Nunca te perdi. Mas, a verdade é que, também, nunca te tive.

Tenho saudades de ser a mais nova e, por isso, a mais protegida!
Tenho saudades de te ter aqui, ao meu lado, a dividir o peso comigo!
Tenho saudades de te ouvir dizer que estamos juntas, sempre!
Tenho saudades de te ouvir chamar-me criança mimada e birrenta e de fazeres disso uma piada!
Tenho saudades do teu colo para chorar! Mas, sobretudo, para rir!
Tenho saudades de te ouvir queixar sobre os dramas da mãe, ajudando a desvalorizá-los!
Tenho saudades de seres o pilar da mãe enquanto eu sou a menina do papá!
Tenho saudades até do teu filho que agora seria a luz desta família e nos faria esquecer de todos os problemas com a sua inocência de criança!

Tenho saudades de ter a irmã que nunca tive! Imagino como seria se a vida não nos tivesse trocado as voltas, sabes? Imagino a tua personalidade, as tuas manias e caprichos, a tua bondade e a tua tranquilidade! Ao contrário de mim, serias serena, daquelas pessoas que sabe tranquilizar o mais aflito de todos os aflitos! Imaginar dói, mas é inevitável. E, nestes dias, sinto uma falta imensa de alguém com quem partilhar isto que estamos, todos, a ultrapassar!

E olho para ti e lá estás tu, qual bebé à espera do meu beijo e do meu mimo! Sem imaginar sequer o que isto é, o que dói e o quanto custa. [Esta dor aperta-me a garganta de tal modo, neste momento, que quase sufoco]. E lá estás tu, com 32 anos e o comportamento de seis meses! Na tua doce inocência, na calma dos teus dias que se resumem aos nossos beijos e às músicas do Mickey no Disney Channel. Eu entro e tu espreitas-me de soslaio implorando pela minha brincadeira contigo e eu... Eu, a maior das egoístas, só imploro por te ter um dia, como uma irmã mais velha normal. Pronta a dar-me colo e porrada. Afinal é isso que os irmãos dos meus amigos fazem, sabias?

sábado, 30 de maio de 2015

Balancete!

Estes não foram os meus desejos de final de ano. Ao ouvir as 12 badaladas, eu desejei ir a Paris. Subir a montanha mais alta do mundo. Saltar de paraquedas. Ver o pôr e o nascer do sol junto ao mar. Ganhar asas e voar. Construir o meu cantinho e concretizar sonhos. Mas, este está a ser o meu ano:
"Dizer àqueles que amo o quanto preciso deles aqui e, da forma mais egoísta possível, esperar tê-los por perto até que o tempo se esqueça de nós".

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Eu vivo no campo...

...e gosto!

Estou na varanda e ouço a bicharada, os cães, os pássaros e até os galos que se estão a pôr!

Já detestei viver nesta terriola! Houve tempos em que o meu sonho era viver no centro do Porto, a cidade que amo. Mas, hoje, não viveria lá. Não aguentaria o stress depois de um dia dos diabos!

Sabe-me tão bem sentir que o dia está a acabar enquanto venho para casa e aprecio a paisagem verdejante. Campos, por entre as casas, onde ainda se vêem vacas. Cheira a estrume, por estes dias! E muito!

E depois, ao chegar à minha paragem, tenho (quase) sempre a sorte de encontrar um cavalo que costuma estar junto à estrada, por baixo de uma vinha. E ainda as flores, as árvores com fruto e os insectos, claro está!

Trabalhar na cidade e dormir no campo é do melhor. Tudo isto a menos de 20 km da praia! Ou seja, tenho tudo aqui à mão de contemplar :)

domingo, 24 de maio de 2015

Chill out!

Depois de duas semanas loucas, cheias de trabalho e com pouquíssimas horas de sono, eis que chega a bonança!

Fechámos a edição, estamos só a ultimar os pormenores para o ExLibris estar nas bancas na 5a feira!

E enquanto isso, DORMIR, COMER, NAMORAR e PRAIA!  :)

[Enquanto aguardamos também o início da quimioterapia. Mas não tem sido fácil. Nada tem sido fácil]

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Depois fui ao futebol!

E quase adormeci!
Ri-me da falta de talento!
Ri-me da inércia!
Ri-me da forma de correr!
E tostei! Ai, que calor!

Fui à aldeia!

Vi curvas infinitas pintadas de verde!
Vi água fresca a correr de baixo da ponte!
Ouvi o vento a falar com as árvores!
Vi as flores a exibirem-se!
Ouvi os pássaros a queixarem-se de tamanha beleza!
Senti o cheiro da erva cortada!

Vi o avô, a avó, o tio, a tia, o primo, a prima...
Ri-me do sotaque!

E gostei :)

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Preciso de praia!!!!!

É Maio. Os meus pés estão brancos como a neve.

Ok! Isto é a prova de que a minha vida mudou. E o tempo, que também não tem facilitado muito.

Em anos anteriores, começava a época balnear em Março. E, portanto, nesta altura já estaria morenita e não assim, tipo porcelana. Ainda por cima, sou tão feliz à beira mar!

Ó sol, despacha-te! Preciso desesperadamente de ti e de um sono quente na areia :)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Porto: Memórias (im)perfeitas!

Desci os Clérigos e como nao podia deixar de ser, nesta semana, as memórias de outros meses de Maio apertavam o coração. Coincidentemente, o meu pai, advinhando-me o pensamento, perguntava se este ano não iria participar na Queima. Eu repetia "já não pertenço a esse mundo". Depois, na rádio, comecei a ouvir "Eu quero a sorte de um Cartoon..." e reparei que não há outra cidade que me aqueça o coração, mesmo em dias de temporal, como o Porto!

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Um elogio por dia não sabe o bem que lhe fazia!

"Parece uma princesa de cor de rosa"!

Soou bem no coração! :)

Festa!

Chapéus na cabeça! Apitos sonoros! Bolo! Velas! E muitas gargalhadas!
Depois vieram as palermices e as conversas boas. Rir até doer a barriga! Há coisa melhor?
O que este grupo gosta é de festa! :)

Mais andorinhas na família!

Agora foi a vez da mãe cumprir um sonho e eternizar uma das palavras que ela mais preza: Família!
E foi ela que me ensinou, desde muito cedo, o peso e o valor desta palavra!
[E uma vez mais: Obrigada Gui, da Art of Ink]

terça-feira, 28 de abril de 2015

Fechar os olhos e...acordar em Paris!

Anoitecer, na Ponte Alexandre III - Foto de nossa autoria :)

Há dias em que só me apetece correr para os sítios onde já fui muito feliz!

Sou da opinião de que se deve voltar aos lugares onde já fomos felizes, desde que acompanhados, sempre, pelas pessoas certas! Madrid e Barcelona, onde voltei e fui mais do que feliz, são prova disso!

Felizmente, já tive oportunidade de conhecer algumas cidades europeias e garanto que voltaria, agora, a todas! Há sempre mais para ver e descobrir!

A última viagem foi em Janeiro e foi a Paris. Hoje, só queria voltar! Dispensava o frio típico da época e da cidade, mas só me apetecia voltar a percorrer aquelas ruas, descobrir um edifício deslumbrante a cada esquina, beber da história da Capital francesa e deixar-me envolver pelo glamour parisiense! Voltaria, claro, com o mon amour porque sem ele Paris não teria o mesmo encanto! Dizem que é a cidade do amor e nós fomos comprová-lo!

Voltamos?! Afinal, «we'll always have Paris»!


segunda-feira, 27 de abril de 2015

#viagensdemetro #1

[anormal

adjetivo de 2 géneros
1.que se afasta da norma ou da média
2.que faz exceção
3.irregular
4.anómalo
5.figurado, pejorativo tarado]

É a segunda vez que me cruzo com ele. Da primeira, ele estava a falar sozinho em pleno metro. A resmungar qualquer coisa sobre os picas. Inicialmente achei tratar-se apenas de um homem enfurecido com alguma situação. Mas, depois, a falta de coerência no discurso, o olhar vidrado e o balançar do corpo denunciaram-no. As pessoas esperaram que ele saísse para rir e comentar.

Hoje lá estava ele outra vez. A ouvir música, a baloiçar e a cantar. Nada importado com os risinhos, os olhares a gritar "cala-te" ou os sopros para o ar que denunciavam já não poder ouvir a cantoria. Em vez de atentar nele, observei os outros. E ver o olhar de escândalo e e o horror com que olhavam para ele chocou-me. Todos o julgavam, o censuraram, o recriminavam e, pior, desejavam que ele não existisse!

Tive pena! [Muitas pessoas censuram a pena. Dizem que é um sentimento pouco nobre. Mas eu sinto tantas vezes pena. Podia chamar-lhe compaixão. Era mais bonito. Mas o que sinto é mesmo pena]
Tive pena! Dele, mas sobretudo dos outros. Ninguém viu que ele era apenas um anormal. Alguém que tem uma estrutura mental diferente do comum e que, coitado, tem que viver num mundo de pessoas bem comportadas que, para ele, não passam de anormais?!

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Está de chuva e o sono pesa!

Os meus olhos pesam. As minhas pernas pesam. Os meus braços pesam. Quero a minha cama!

Voltar ao trabalho tem as suas coisas boas. Apesar de, por vezes, insuportáveis, as rotinas ajudam a que a vida siga em frente. Encontramos as mesmas pessoas de sempre, de quem começamos a sentir uma ligeira saudade numa semana de ausência, percorremos os mesmos caminhos e descobrimos a cada dia um novo pormenor da calçada. Eu tenho uma relação de amor e ódio com as rotinas. Não sei viver nem com, nem sem elas. Mas, a verdade é que quando queremos seguir em frente, as rotinas podem ser as nossas maiores aliadas.

No entanto, ir trabalhar depois de uma noite dos infernos não é fácil. O pai dormiu três horas, se tanto! O sono não vinha, a mãe desesperava. Tomou uma pastilha e nada. Duas pastilhas e nada. Três da manhã e nada. Levanta, fuma, deita. Isto a noite toda! Troquei de "poiso" com a mãe para que ela pudesse descansar e lá fiquei, ao lado dele, a tentar perceber o que se passava e a desesperar por o tranquilizar.

Se ele fosse um menino, tinha-o pegado ao colo e cantado uma canção de embalar!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Um dia bom...Um dia mau...Um dia assim-assim!

Qual montanha russa, esta vida é repleta de altos e baixos! 

Nos dias menos bons, em que ele está pior, a minha mãe dispara "já tive mais esperança" e o coração estremece!

domingo, 19 de abril de 2015

Fim de semana é sinónimo de ronha!

O tempo não convidou para grandes passeios. E se é verdade que adoro o sol e passar bons momentos na praia e no campo, também é verdade que adoro dormir!

Sou uma preguiçosa nata! A minha mãe conta sempre, a propósito desta minha particularidade, que até para nascer fui preguiçosa. Esteve 12 horas à espera que eu decidisse arriscar e espreitar cá para fora, o que só aconteceu depois das 11h30 que eu não sou pessoa para gostar de acordar cedo. Por isso, quem torto nasce, tarda ou nunca se endireita.

E quando a chuva se faz sentir (odeio chuva!), a cama é o meu local preferido. O Bruno sofre nos meses de Inverno em que eu literalmente hiberno e a minha disposição para programas fora de portas (ou para lá dos lençóis) é muitas vezes nula. Além disso, depois de uns dias exigentes, em que me anulei em prol dos outros, só preciso de uns momentos a sós. Ou seja, deitar a cabeça na almofada, sonhar e abstrair até adormecer e depois permanecer assim, na ronha. Ouvir o mundo como barulho de fundo e fingir que não existo. Sabe tão bem! :)

Este fim de semana foi assim. O Bruno, uma vez mais, compreendeu e juntou-se a mim. Pernas entrelaçadas no sofá, manta e até chocolate. Ah, e é claro, as mesmas parvoíces de sempre.  E, pronto, basta isto para sermos felizes!

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Primeira fase: DONE!

Já estamos em casa. Todos!

Correu bem e, por isso, PRIMEIRA FASE CONCLUÍDA! :)

Ele está bem, animado e sem dores. Agora é recuperar bem e ganhar forças para o que se segue. Ainda agora começou e temos que ter noção disso, mas também temos que seguir com a mesma força e coragem com que demos o primeiro passo :)

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Correu bem!

A laparoscopia confirmou que a doença está só no estômago e à volta da sua parede externa.

E já tem o cateter para iniciar a quimioterapia. Por isso, para a semana voltamos cá para uma reunião de grupo, na qual vai ser decidido o esquema da quimioterapia. E depois são mais duas semanas para que ele possa começar o tratamento.

Vai resultar! Só pode resultar! Só espero que ele tenha a força necessária para que tudo corra bem; a força para aguentar o que se segue. Ele vai ter, eu sei que vai! E vamos vencer!

Hoje foi mais um dia bom :)

terça-feira, 14 de abril de 2015

Internado

Viemos a uma consulta. O internamento seria amanhã, mas afinal houve um mal entendido e ele fica já hoje.

O PET mostrou que não tem ramificações da doença à distância. Por isso, há esperança!!!!!

Subimos para a enfermaria com um grupo de doentes que vão ficar internados e foi impressionante ver que iam todos com espírito positivo. Quase como se fossem de férias, a fazerem piadolas com o facto de parecer que estavam numa excursão. Haja alegria! :)

E uma boa notícia para acabar o dia

O resultado do PET foi favorável e vamos avançar com a realização da laparoscopia para melhor estadiamento do tumor.

Amanhã voltamos ao IPO e na quarta-feira já fica internado.

As coisas estão a andar, finalmente! E vai tudo correr bem! Só pode correr bem! :)

Ele continua animado. Coragem!

segunda-feira, 13 de abril de 2015

FÉ! ESPERANÇA!

Hoje o dia será passado pelos corredores do IPO-Porto. Chegámos às 8 horas. Ele entrou, sozinho.
Eu vagueio por aqui. Para trás e para a frente. Estou num hospital, mas não sinto a doença. Olho à volta e na maioria dos olhos que fixo vejo esperança, força e coragem! Em alguns vejo medo também. A primeira vez que viemos às consultas no IPO, já conhecíamos o diagnóstico. E, talvez por isso, os meus olhos gritavam de tão apavorados que estavam. Hoje, o coração está mais sereno. Mas, ainda assim, preciso de ficar sozinha, chorar sozinha. E, por isso, corro para aquele que tem sido o meu refúgio: a Igreja!
Sempre questionei tudo o que os padres proclamam nos altares, o que as catequistas teimavam em ensinar. Sempre tive fé - umas vezes mais, outras menos - mas sempre foi uma fé tão diferente daquela que é praticada nas igrejas e ao meu redor. Ainda assim, desde que esta jornada começou, tem sido a fé a salvar-me. Sento-me na Igreja vazia e falo com Deus, mas um Deus que é justo, bondoso e não tem nada de punidor ou castigador.
Fiquei uma hora ali, com Deus e comigo mesma. Chorei. Rezei. Sorri. Estou pronta para continuar.

domingo, 12 de abril de 2015

«Asas servem p’ra voar»



Esta foi uma das frases que mais me acompanhou ao longo dos últimos anos. Esta vontade de conhecer o mundo, de sonhar o impossível, de ir… Ir mais além, ir para onde os sonhos me levarem. E, depois, esta necessidade de ficar junto daqueles que me são mais queridos, próximo dos “meus”. Este aperto no coração cada vez que vou e a necessidade de voltar, sempre, para casa. Aquilo a que muitos chamam saudade; eu chamo amor. Conjugar um coração independente com o amor incondicional que liga uma família nem sempre é fácil. Durante anos, estes sentimentos – por serem tão ambivalentes – despertavam apenas rebeldia. Mas, cresci e aprendi que posso zarpar para onde os sonhos me levarem porque tenho sempre a minha âncora bem segura na Família, no Amor e nos Amigos. Estes são o meu porto de abrigo: os que partilham a brisa suave da maré baixa num dia de sol e os que não me deixam naufragar quando a tempestade chega. Aprendi que os ventos sopram, por vezes, com muita força, mas quando somos abraçados por quem nos quer bem, não há vento ou onda gigante que nos tire do lugar. Lutei contra ventos e tempestades a vida toda e esta âncora permitiu-me continuar em frente, sempre. Além disso, a minha família é, verdadeiramente, como um bando de andorinhas: voamos sempre juntos, na mesma direção, fugindo das tempestades em busca da luz do sol. Somos quatro e seremos sempre quatro, aconteça o que acontecer. E, de cada vez que a vida nos põe à prova, voamos com mais força. E a vida já nos pôs à prova tantas vezes!!! Continuar, assim, unidos é, por isso, um orgulho. E, agora, mais uma vez, estamos a dobrar o Cabo das Tormentas. A vencer, juntos, o cancro – esse bicho que se instalou repentinamente nas nossas vidas e nos fez questionar tudo. Mas, venceremos! E, se porventura não vencermos, tal como o meu pai repete incessantemente: «Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera». Não acabará, nunca! Enquanto esta âncora permitir que o barco não se afunde e enquanto houver paraíso para as andorinhas migrarem!

Ficou perfeita. Em cada elemento está a minha história.

Trabalho realizado pelo Gui, da Art of Ink (Blog: http://tatuandohistorias.blogspot.pt/)

E para fechar o fim de semana...

... Cinema com os amigos!
Quem disse que o fim de semana é para descansar? Este cansou e muito, mas valeu muito a pena! :)
Foi uma boa forma de carregar a minha bateria com muita energia positiva para a semana que se avizinha.

Amanhã, será um dia muito decisivo! Será o dia! :)

Deixar entrar o sol...

...e ser feliz!

sábado, 11 de abril de 2015

O meu corpo é tela

Um livro em branco com 1,54 metros de altura. O meu corpo é assim, tela para gravar as lições mais valiosas que a vida me dá.

E, hoje, escrevo a segunda página deste livro!

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Dia dos irmãos. Do amor maior da minha vida

Não há nada mais puro do que estes sorrisos!

Jantar com as amigas #1

Não há nada melhor do que pôr a conversa em dia com as amigas. Poder passar meses sem nos vermos ou falar e, depois, sentar à mesa como antes e dizer as coisas mais parvas e, também, as mais sérias com a mesma naturalidade de sempre.

Ainda para mais se o jantar for repleto de coisas boas (e calóricas) como este :)


[Fotos roubadas da Tasquinha do Caco. Um sítio muito agradável para um jantar descontraído na linda cidade Invicta, onde se pode saborear os sabores típicos da ilha mais linda do mundo: a Madeira]

quarta-feira, 8 de abril de 2015

De volta ao aconchego das palavras

[Voltei aqui porque as palavras sempre foram o meu refúgio. Porque, nos últimos tempos, o sabor amargo da diferença tem tentado anular o doce da vida. Porque vou iniciar uma longa jornada e quero que cada lição fique eternizada e só as palavras conseguem imortalizar as pessoas e as suas vidas]



Estamos a calçar as luvas, a fazer o aquecimento, a exercitar os músculos do coração e, sobretudo, da alma.
Achamos que sabemos o que nos espera. As dificuldades que se avizinham. Os dias difíceis e, sobretudo, dolorosos. Mas, provavelmente, não fazemos a mínima ideia de quão longa vai ser a nossa jornada. Nossa. De todos. Juntos, como sempre. Não fazia sentido de outra maneira senão assim, em uníssono nas gargalhadas, mas também aconchegados na dor.

Naquele dia em que a enfermeira entrou, acanhada, na sala de espera e chamou um familiar, eu sabia que as notícias não seriam boas novas. Se fossem boas, a médica não precisaria de falar primeiro com um familiar e só depois com o paciente. Eu sabia. Eu até já tinha pesquisado sintomas de cancro do estômago e do cólon e de sei lá mais o quê. Mas o que ele tinha poderia ser sintoma de tanta doença e, ao mesmo tempo, de nada. Por isso, apesar de implorar para que ele fosse ao médico, eu tinha esperança que aquilo não passasse de um mal estar passageiro ou de uma bactéria qualquer activa. Ainda assim, quando me sentei e foquei nos olhos da médica, atirei convicta: "Pode dizer. Já estamos à espera de más notícias!" (Que parvoíce! Que inocência! Que leviandade! Nunca se está preparado para ouvir a sentença que se seguiu!). E ela, com cautela, afirmou: "O seu pai tem uma úlcera muito grande no estômago. Tirámos amostras para análise e só vamos saber se é maligno ou benigno depois da biópsia. Ainda assim, pelo aspecto e tamanho daquilo, é para retirar o estômago todo. Não perca tempo. Corra para o IPO, o seu pai precisa de ser tratado com urgência".

Mas que grande abanão! Só pensava "não chores! não chores, por favor!" e a seguir pensava "como é que a mãe vai aguentar mais isto? Como? Porquê a nós? Já não temos que chegue?". Nestas alturas, aquela ideia retrógrada de que estamos a ser castigados ou a ser postos à prova por qualquer motivo vem-me sempre à cabeça. É uma estupidez, eu sei, mas não consigo evitá-la!

Ela tentou mostrar-me que aquilo não era o fim do mundo, que muita gente vive anos sem estômago, fazendo uma vida relativamente normal, que ele iria apenas precisar de mudar alguns hábitos, como deixar de fumar (40 cigarros por dia! 40!!! Ou mais!!!), evitar consumir bebidas alcoólicas (que eram diárias. Um copo de vinho verde às refeições, um Martini a meio da manhã e uma bela de uma cerveja a meio da tarde. Coisa pouca, portanto!), aprender a comer outros alimentos pouco habituais. E eu gritei. "Ele não vai mudar! Não vai! Não é homem para isso! Há anos que lhe peço para mudar e nada! Não vai!". Ela insistia: "Vai ver que vai. O susto vai fazê-lo mudar e aprender".

Ouvi a médica a contar-lhe. Percebi que ele não estava a ter a real noção da gravidade. Impulsiva, como sempre, atravessei a cortina e disse abruptamente: "Provavelmente (se calhar até me esqueci do provavelmente) tens cancro do estômago. Vais ter que retirar o estômago. Vamos para o IPO tratar da situação". Ele calou, por breves momentos. A médica explicou novamente, com mais cautela e precaução. No fim, ele disse, com o mesmo humor peculiar de sempre, "quando morrer sou um defunto, senhora doutora". Tantas vezes me apeteceu esganá-lo pela sua inconsequência. Bater-lhe como se faz a uma criança mal comportada pela sua irresponsabilidade e falta de cuidado para consigo mesmo. Tantas vezes me apeteceu arrastá-lo por um braço até ao médico. Mas, o respeito que se deve ter a um pai impediu-me de tudo isso. Quem me dera não o ter respeitado tanto!

Ao chegar a casa, lá foi ele ao café. "Vou registar o Euromilhões", disse! Quando lá cheguei, estava a beber uma cerveja. A beber uma cerveja depois de ter estado horas em jejum, ter feito endoscopia e colonoscopia com sedação, ter descoberto que tem uma doença grave. Lá estava ele, com a mesma irresponsabilidade. Que fazer? Bater-lhe? Ai que tanto me apetecia trocar de papéis e espancá-lo! Mesmo que ache que essa não é a melhor forma de educar, era só isso que me apetecia fazer naquele momento. No entanto, foi a última cerveja. Há mais de um mês que não toca em álcool. Passou de 40 cigarros para 10. E teve mais força do que qualquer outro. Animou-nos. Proibiu-nos de chorar e prosseguiu a vida com a certeza que isto se ia resolver. "É tirar o estômago e pronto", dizia. Mas não é. Não será.

Primeiro, quimioterapia. Depois, logo se vê. Pelo menos isto é o que se espera agora porque, entretanto, neste processo de consulta e admissão no IPO-Porto, já achámos de tudo e mais alguma coisa. Primeiro, pensámos que seria apenas operar. Depois de falar com o médico, fiquei com a certeza que pouco haveria a fazer e operar estava fora de hipótese. Umas quantas segundas opiniões e  a quimioterapia parecia a "solução" ideal para já. E, agora, aguardamos por segunda-feira, pela realização do PET - o exame decisivo que vai averiguar se se realiza Laparascopia para melhor estadiamento do cancro ou se se avança já com a quimioterapia sem pensar em operar sequer. Tudo se vai decidir na próxima semana.

Enquanto isso, preparámo-nos para a luta. A minha mãe já se reergueu do choque, do medo de ficar sozinha na vida, sem o seu grande amor. Ela que passados 36 anos continua apaixonada pelo homem com quem se casou aos 17. Ela que viveu uma vida de percalços. Ela que lutou a vida toda, aprendendo a sorrir em cada momento e a esconder as lágrimas. Ela ficar sem o seu amor é duro demais.

A minha irmã passa ao lado de tudo isto. Na sua inocência de bebé grande. Na sua gargalhada de amor. Na sua ternura. No seu mimo. Passa ao lado porque não tem capacidade para perceber o que se passa. Porque a sua doença não permite. Antes assim, coração de amor quem nem sabe sequer pronunciar dor.

Eu, eu sei lá. Aprendi, muito cedo, a sorrir para a vida, mesmo quando esta só nos quer derrubar. Fiz-me mulher, no verdadeiro sentido da palavra: forte! Mas, ainda assim, tropeço nestas pedras que encontro no caminho para logo me levantar e continuar. Não há tempo para lamurios e tristezas. Por isso, prossigo. Rodeio-me de tudo aquilo que me faz bem. Repenso o futuro e redefino objectivos. Adio o que tiver que adiar. Agora, importa - como sempre importou, mesmo quando a rebeldia não me deixava admitir - a família. Só a família! Mas, também choro. A minha saúde mental assim o exige.