domingo, 27 de novembro de 2011

Filho!



"Ser pai ou mãe é o maior ato de

coragem que alguém pode ter, porque é se expor a

todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar

agindo corretamente e do medo de perder algo tão

amado. "

José Saramago

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Hoje é o dia!

Há muito que a ideia fomentava dentro de mim.
Um dia, vou partilhar experiências e descobrir outros tantos iguais a mim. Hoje é dia.

Via um excerto da reportagem “Km Zero” da TVI e, como sempre nestas alturas, o choro tomava conta de mim. Tantas vidas tornadas diferentes pelo acaso e eu só pensava: quem me dera que ela fosse assim. Quem me dera que ela tivesse uma perna amputada, mas que pelo menos falasse. Pensamentos como estes podem ser brutalmente radicais para quem está de fora. Mas, para quem passa uma vida a sonhar ouvir o próprio nome pronunciado por quem mais ama, este pensamento é mera banalidade.
Ela, a minha irmã, tem 29 anos, mas será sempre a menina da família. “Um bebé grande” como sempre lhe chamei. Foi a primeira filha, mais que desejada, de um casal feliz. O parto não foi fácil mas, comparado com o que viera depois, foi apenas um pequeno contratempo. Estava na altura da bebé dizer as primeiras palavras e dar os primeiros passos em direcção ao futuro. No entanto, nada disso acontecera. As palavras eram escassas e os passos nem chegaram a existir. Numa altura em que a medicina estava a evoluir abruptamente, não tardou o diagnóstico: Síndrome de Rett. E que serve tamanho palavrão para os pais que acabaram de ver os maiores sonhos roubados de uma forma tão cruel?

Não vivi estes dias. Nasci muito depois. A história que conto é o conjunto colado de desabafos que ouvi pelo caminho. Não consigo imaginar o que aqueles (que, por acaso, são os meus) pais sentiram. Muito menos consigo saber onde foram buscar forças para fazer daquela bebé a menina mais feliz que conheço. E, também é incrível imaginá-los a pôr o medo para trás das costas e arriscar ter um segundo filho.
Este cantinho serve para contar a história e encontrar outros heróis que, tal como os meus pais, lutam contra o amargo da diferença com a arma mais doce que há no mundo: o amor incondicional.

Para além disso, confesso: é também uma homenagem que lhes faço. A eles, mas principalmente, à minha mãe.