segunda-feira, 27 de abril de 2015

#viagensdemetro #1

[anormal

adjetivo de 2 géneros
1.que se afasta da norma ou da média
2.que faz exceção
3.irregular
4.anómalo
5.figurado, pejorativo tarado]

É a segunda vez que me cruzo com ele. Da primeira, ele estava a falar sozinho em pleno metro. A resmungar qualquer coisa sobre os picas. Inicialmente achei tratar-se apenas de um homem enfurecido com alguma situação. Mas, depois, a falta de coerência no discurso, o olhar vidrado e o balançar do corpo denunciaram-no. As pessoas esperaram que ele saísse para rir e comentar.

Hoje lá estava ele outra vez. A ouvir música, a baloiçar e a cantar. Nada importado com os risinhos, os olhares a gritar "cala-te" ou os sopros para o ar que denunciavam já não poder ouvir a cantoria. Em vez de atentar nele, observei os outros. E ver o olhar de escândalo e e o horror com que olhavam para ele chocou-me. Todos o julgavam, o censuraram, o recriminavam e, pior, desejavam que ele não existisse!

Tive pena! [Muitas pessoas censuram a pena. Dizem que é um sentimento pouco nobre. Mas eu sinto tantas vezes pena. Podia chamar-lhe compaixão. Era mais bonito. Mas o que sinto é mesmo pena]
Tive pena! Dele, mas sobretudo dos outros. Ninguém viu que ele era apenas um anormal. Alguém que tem uma estrutura mental diferente do comum e que, coitado, tem que viver num mundo de pessoas bem comportadas que, para ele, não passam de anormais?!

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